26 de janeiro de 2009

Misturada da semana

Não costumo comprar a Focus, mas o assunto da capa (Os solteiros são mais felizes?) deixou-me curiosa e tratei de levar comigo o número desta semana (484). Já que a comprei, passei a revista toda em revista (deve ser daqui que vem a expressão “passar em revista”…).

Adorei o editorial, do Carlos Ventura Martins, “A palavra do cardeal”, no qual tece algumas considerações sobre as declarações do cardeal-patriarca de Lisboa acerca dos muçulmanos. Tomei a liberdade de destacar algumas frases, espero que não fique aborrecido comigo…

“A questão é sempre a mesma: o Papa e a maioria dos bispos e dos padres não conseguem perceber que as suas concepções dizem respeito apenas aos seus fiéis. Quem o não é, não tem de os atender.”

“E quando D. José Policarpo declara que é difícil dialogar com os adeptos de Maomé porque a “verdade deles é única e toda”, podia acrescentar: assim é com os muçulmanos, assim é com os católicos. É esse, aliás, o drama das religiões: cada uma julga-se detentora da verdade toda e única.”

“Ao dizer o que disse, D. José Policarpo mostrou não saber fazer um exame de consciência exigente sobre a sua Igreja. Prestou-lhe um mau serviço e não amou suficientemente o próximo. Foi um mau cristão. Mas talvez tenha sido, afinal, um bom católico.”

Bom, a mim não me causa grande estranheza esta postura, uma vez que o livro de referência da Igreja Católica – que pode ser interpretado de muitas formas* – tem textos de “amor e compaixão”, sobretudo no Antigo Testamento, do qual destaco esta parte:

“Mas se de tal facto advier dano, então pagará vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, chaga por chaga, pisadura por pisadura.” Êxodo 21, 23-25

Esta frase inspiradora está enquadrada na parte das leis referentes aos escravos, que vem logo a seguir aos famosos (mas nem sempre muito apreciados ou seguidos) 10 mandamentos**.


Ainda sobre amar o próximo, e juntando a questão das vantagens solteiro vs casado:
www.szansaspotkania.net (esta também vem na Focus)

Há um padre na Polónia que é muito à frente e dá workshops sobre sexo. Ao que percebi , ele até criou os 10 mandamentos do sexo!

Detalhe: este monge católico vive em celibato.
Sim, também elaborei a mesma questão na minha cabeça, e a resposta do senhor é: “Não é preciso ter tido um enfarte para ser um bom cardiologista.”
Gostei!

* Inteligência, livre-arbítrio e discernimento são características muito aprazíveis, não são?
** Já anteriormente procurei explicar o porquê dos Mandamentos serem tantas vezes desrespeitados.

4 comentários:

Marta disse...

Vi estas afirmações no telejornal por um destes dias!
Não sou católica nem tenho qualquer religião, nem nunca li a Biblia, mas tenho em mente que a palavra de Deus que eles católicos defendem é qualquer coisa como "amai o proximo como te amas a ti mesmo...etc, etc"
Pelo que vemos as religiões são a maior forma de incitar a separação, ao fomentarem as proibições, os medos e o pecado!
Se uma pessoa não for livre, se viver em função de medos, de proibições, de opiniões alheias, como poderá ela amar o proximo, se não se ama a si mesma?

Quanto ao padre muito à frente, caríssima, eu cá tenho uam teoria:
o melhor terapeuta é aquele que já passou pela dor do paciente, pois é esse que consegue sentir empatia, consegue por-se no lugar dele, sabe exactamente o que ele está a sentir e uma vez que já lá esteve, sabe exactamente como ensinar-lhe a sair de lá, bem melhor do que qualquer outro que apenas estudou tecnicas na universidade.
Portanto quanto a esse padre, essa do bom cirugião para mim não cola. Sempre ouvi dizer que para ser um bom chefe não basta mandar, é preciso saber fazer!

Vício disse...

sem duvida que a expressão do monge está correcta!
“Não é preciso ter tido um enfarte para ser um bom cardiologista.”
pois não! um cardiologista mesmo sem ter tido um enfarte tenta evita-los... será pela mesma ordem de ideias que um enfarte está para um cardiologista assim como um orgasmo está para um celibatário?

Actriz Principal disse...

Marta,
Eu gosto de ler sobre quase todos os assuntos e, como sabes, ando a ler a bíblia no meio de outros livros, sendo que a bíblia é a melhor forma de chamar o soninho, é tiro e queda, ao tamanho dos textos e ao pouquinho que leio de cada vez, não sei se conseguirei chegar ao apocalipse antes da reforma. E o corão também anda debaixo de olho...
Como também sabemos, a maior parte das pessas não consegue acreditar (ou prefere não saber) que o pecado não passa de um conceito e que, como é muito mais fácil ter alguém a dizer-nos como fazer do que assumirmos o nosso acto (assim já temos em quem colocar a culpa no caso de correr mal), iremos continuar a ter personagens com discursos deste género. Afinal de contas, de que serve um líder, se ele não tem seguidores? (by the way, eu sou líder na minha casa e não se fala mais no assunto...)
Quanto ao padre, concordo contigo. Mas gostei de saber que existem mentes mais abertas dentro de uma das religiões mais fechadas... assim como se fossem lufadas de ar fresco no meio da poluição!
Beijos

Vício,
Depois da tua dedução, dou graças aos Céus por não ser... cardiologista? :-)

Cem disse...

o pecado é obra da mente humana

aliás foi no periodo vitoriano que as cenas de nudez e sexo foram "caladas"

e é bastante curioso notar que tudo aquilo que se põe ou se quer silencioso motiva as mais controversas opiniões. O facto é que estamos (mente humana) constantemente preocupados em não só classificar mas também em transformar...

Beijinho grande