23 de março de 2009

Elogio do dia

Senhor Simpático, Inteligente e Observador (SSIO) - Actriz, tu és como uma panela de pressão. Andas a ferver há um tempo, um destes dias explodes. Acho que deverás usar a técnica do "vou ali abaixo da ponte gritar quando o comboio estiver a passar"!

Actriz Principal (AP) - Eu sei, eu tenho tentado controlar as minhas emoções, a raiva, a frustração. Estou bem melhor desde que comecei a meditar regularmente, a atacar a passadeira do ginásio e a fazer cachecóis de malha. Todas estas técnicas são muito relaxantes!

SSIO - Pois, mas isso apenas atenua um pouco. Um destes dias, salta-te a tampa e viras tudo ao contrário.

AP - Sim, mas estou à procura de alternativas que me sirvam efectivamente. É que ir ao psiquiatra não iria acrescentar valor nenhum à resolução das minhas questões... acho que não é esse tipo de ajuda que preciso neste momento...

SSIO - Claro que não! Até porque irias desmontar o homem em três tempos!

Moral da história eu devo ser uma bomba. Mesmo!

6 comentários:

Vício disse...

talvez seja melhor verificares o respirador da panela e deixar sair alguns gazes...

Moço Marafado disse...

Eu diria o mesmo que SSIO (só não gosto que me tratem por senhor...). Anime-se, divirta-se, relaxe mas não complique a vida ao pobre psiquiatra!

Diabba disse...

Hummmm não será tempo de mudares o feitio da malha? sei lá, bikinis em crochet, tops em renda de bilros, camisolas para ofertar à malta no natal...

Vá, vamos mas é caminhar como se não houvesse amanhã, se nos cansar-mos, descansamos! Buga no fim-de-semana?

beijo d'enxofre

Anónimo disse...

Comentar...não! Não se comentam constactações de facto ou percepções... pois que eles se podem confrontar com mentes armadilhadas e são delas alimento...
O silêncio é pois a minha maior aspiração. As palavras, essas, estão gastas, envelhecidas e aviltadas. Fatigam e exasperam, mentem, separam, ferem. E quando apaziguam apenas realizam o que o silêncio não conseguiu obter.
Será porventura a virtude dos loucos, mas é certamente o amigo que nunca trai.
Mas falar é o único meio de que disponho para vos explicar a vida que vivo e para a qual vos convido. Mas falar supõe ouvir e ser ouvido e o ouvido é a segunda porta da verdade e a principal da mentira, pois que só raramente se ouve e ainda menos se escuta a pureza da mensagem. Esta, misturada por afectos e paixões, tem razões que a razão desconhece, pintando-a, tingindo-a, alterando-a. Mesmo assim, entre palavras e silêncios quero escutar as ideias vocalizadas, mesmo que estas sejam compostas de silêncios, porquanto a realidade é a matéria-prima e a linguagem o modo como vou buscá-la e a interpreto.
A linguagem é pois o meu esforço humano na senda da busca e do reconhecimento dessa realidade, mesmo que a maior parte das vezes volte com as mãos vazias. Mais…o que não consigo exprimir em palavras, o indizível, só existe devido ao fracasso da minha linguagem que é sempre mais pobre que o mundo sensorial e que a realidade que me envolve.
Antes de falar serei senhor das palavras, mas depois que as pronuncio torno-me delas escravo.
Assim, mesmo que seja melhor ser rei do meu silêncio do que escravo das palavras, estas são, em si mesmas, um poder.
A ideia de «palavra como poder» é muito antiga e encontramo-la em diversas tradições, a começar pela clássica egípcia: o papiro de Nesi-Amsu — talvez 3.000 anos antes de Cristo — relata uma história da Criação em que, antes que o mundo e tudo quanto nele se contém começasse a existir, existia apenas o deus Neb-er-tcher («Senhor de Todas as Coisas») que, no momento apropriado, proferiu as seguintes palavras criativas:
«Configurei a minha boca e pronunciei o meu próprio nome como uma Palavra de Poder e expandi-me enquanto evolução de Khepera [“Criador dos Deuses”] e desenvolvi-me a partir da matéria primeva que produzirá multidões de evoluções desde o princípio dos tempos».
Para além dos conteúdos, o poder vibratório da palavra é muito forte e bom seria se tivéssemos disposição e tempo para pesar e medir cada palavra antes de a soltarmos por ares e ventos, sabe-se lá com que fastos ou nefastos resultados — como recomendava Cervantes num colorido diálogo entre D. Quixote e Sancho Pança por entre andanças cavaleirescas, citando um provérbio antigo: «Antes de falares, pensa sete vezes».
As palavras justas são verdadeiras e, por conseguinte, livres; nunca estão limitadas ou acorrentadas pelo espaço ou pelo tempo; chegam aos mais longínquos recantos da terra, e, mesmo quando os lábios que primeiro as pronunciaram já se desfizeram há muito no pó dos sepulcros, outras vozes espalharão com o mesmo entusiasmo a mesma mensagem de amor e vida.
Palavras de paz alcançaram vitórias onde a guerra teria significado uma derrota, e nenhum talento é mais desejável do que o de saber dizer a palavra certa no momento oportuno.
A palavra, mesmo a aparentemente rudimentar e fruste palavra humana, tem uma força mágica, é dotada de energia, positiva ou negativa: a boa palavra pode curar, erguer o ânimo, inspirar, fortalecer, confortar, orientar, dissuadir do mal, persuadir ao bem, reconciliar, perdoar, fazer compreender, iluminar.

Paralelamente, quanto mais o homem desenvolve sua capacidade de operar com a linguagem, mais ele se distancia da sua condição de ser natural e evolui em direção a ser social, por força das suas interações sócio-históricas e à crescente capacidade de ele operar com os signos verbais. Tem-se com isso que, quanto maior for a sua capacidade de linguagem, maior será seu nível de desenvolvimento, pois trabalhar com signos implica atingir condições de realizar funções mentais superiores, o que permite ao homem operar teleologicamente.

A linguagem não é neutra, pois ela é o campo da polissemia, da polifonia, de encontros, de desencontros, de choques de interesses opostos, de conflitos diversos, enfim, de lutas, visando à conservação de determinados sentidos. Evita-se, porém inutilmente, a constituição de outros sentidos, que irão de encontro às formações discursivas, sociais e ideológicas dominantes num determinado momento histórico, pois o poder joga o jogo da palavra.

Por isso, justifica-se que as palavras, na função de signos verbais, somente têm sentidos quando contextualizadas com o processo sócio-histórico da interação verbal, materializado nas enunciações discursivas ou no diálogo concreto.

O indivíduo, ao interagir com os que lhe estão próximos, penetra na corrente da comunicação verbal que o cerca, sendo a sua experiência material, social e histórica, efectuada através da interação verbal com os outros.

Dizem, a propósito do mundo de hoje que ele é feito de profundos silêncios, no meio das estridências da vida – silêncios da indiferença, mas também os silêncios da incomunicabilidade.
Perigoso sintoma diria eu, destes tempos, quando o silêncio opcional pode equivaler ao silêncio imposto, pois que na prática todos eles se traduzem em ausência de comunicação e portanto de integração, de interacção e de construção.
Se aspiro ao silêncio, não é tanto pelo medo das palavras e dos símbolos que elas traduzem, mas antes pela aspiração de poder no silêncio captar toda a realidade e suas mensagens.
Se ainda careço das palavras, é porque ainda estou longe desse grau de perfeição em que as palavras se tornam supérfluas e a comunicação se faz por meios alternativos.
Remeto-me por isso ás minhas limitações, ás perguntas feitas e por fazer, até que a realidade se me imponha por si.
Entretanto, resta-me sentir

Actriz Principal disse...

Vício,
Talvez a solução passe por deixar de comer feijão por uns tempos...

Moço Marafado,
Pois será bem melhor! Até porque o meu seguro de saúde caduca amanhã e ainda não pensei em "prospectar" um novo e baratinho...

Diabba,
Obrigada pela alheira fabulosa! Caminhadas? Com esta ventania? Sem lastro vou parar a Freixo de Espada à Cinta!
Beijocas!

Anónimo,
Se quisesse dar uma de frases feitas, diria que as palavras são de prata, mas que o silêncio é de ouro.
Se quisesse buscar validação procurando nas palavras dos outros, diria que já o Abrunhosa uma vez comentou que o silêncio é a matéria prima que ele usa para fazer a sua música.
Contudo, e como sou uma gaja prática, digo que a telepatia funciona com poucas pessoas... ainda!

Anónimo disse...

Não me parece sejas uma pessoa de frases feitas, nem uma "gaja" prática...mas antes, uma pessoa que admite a construção diária, a renovação periódica que, como todos nós, precisa que o mundo que te rodeia (te) valide, pois não és tendencialmente uma marginal ou uma outcasted. Há de facto muitos silêncios ...demasiados silêncios...que não são mais do que gritos calados no fundo. Não me imponho como ouvido...embora esteja preparado para os teus gritos...assim o queiras.